Um trabalho dentro da Amazônia legal que preserva a floresta e promove o economia regenerativa
Um levantamento do WRI Brasil (World Resources Institute), apontou que faltam sementes nativas no mercado nacional e há o risco de se usar sementes de baixa qualidade. O relatório mostra, ainda, que o Brasil não tem quantidade de sementes de árvores nativas suficientes para a restauração ecológica ou reflorestamento para comercialização de produtos florestais madeireiros e não madeireiros.
Segundo a revista científica Forests, é preciso restaurar 12 milhões de hectares de floresta e que o Brasil precisa produzir entre 3,6 mil a 15,6 mil toneladas de sementes nativas para poder restaurar estes milhares de hectares.
Durante o desenvolvimento do nosso trabalho, de fato, identificamos a ausência de nativas amazônicas de qualidade para propagação. Com este objetivo, a Ecoarts se uniu a Embrapa Oriental, especializada em frutíferas amazônicas, para que as matrizes utilizadas em seus projetos sejam de boa cepa e possam assegurar a qualidade da propagação, evitando assim, a erosão genética. E, a partir daí, em parceria com a Embrapa Amazônia Oriental e com a Embrapa Agrossilvipastoril, a Ecoarts criou o projeto Floresta de Alimentos.
O objetivo é recuperar áreas da Amazônia brasileira, por meio da criação de unidades de restauração florestal em cidades (Amazônia Urbana), áreas rurais (Agro Floresta) e comunidades tradicionais e indígenas (Pomar nas Aldeias), dentro da Amazônia brasileira. O projeto visa melhorar e propagar a qualidade genética de nativas amazônicas com a meta de plantio de 2.500 hectares, o que corresponde a mais de 4 milhões de frutíferas Amazônicas, criando assim a maior floresta de alimentos do mundo.
Na primeira etapa, realizada em janeiro deste ano, dentro da Amazônia Urbana, mais de 2 mil frutíferas nativas foram plantadas na cidade de Sinop, em Mato Grosso. “Escolhemos árvores de ciclo curto, que em três anos irão produzir frutos e novas sementes, além de capturar mais de 280 toneladas de CO2 da atmosfera”, afirmou a presidente da Ecoarts, Maristela Martins.
A partir de recursos das vendas de produtos e serviços, apoio de parceiros e doações, o projeto Floresta de Alimentos faz o tratamento de mudas e o plantio de mais de duas dezenas de espécies de árvores frutíferas nativas amazônicas, hoje em risco de extinção.
A primeira etapa já foi realizada. Em janeiro de 2020, foram plantadas 2 mil matrizes de árvores frutíferas na cidade de Sinop. Essa ação permitirá a geração de 280 mil toneladas de CO2 em 20 anos.
Após o plantio na cidade Sinop, será realizado o plantio na área rural, começando pelo Município de Marcelândia. A área escolhida fica na região da BR-163, onde será construída uma casa de sementes, a primeira unidade de referência rural.
A previsão para início será nos próximos meses aproveitando as chuvas da região. O objetivo é expandir o projeto em parceria firmada com a Sociedade Rural local, que reúne uma rede de 280 fazendeiros da região e que serão beneficiados, fornecendo sementes de suas áreas de preservação para replantio e restauro de áreas degradadas. O objetivo é criar uma cadeia de frutas e sementes num primeiro momento e, posteriormente, o processamento na região, através de bioindústria, futuramente.
A terceira etapa do Floresta de Alimentos será de plantio nas aldeias indígenas. O trabalho terá início na aldeia Yawalapiti, que fica dentro do parque do Xingu. O plano de ação do plantio será baseado em um relatório completo, que identifica necessidades e desafios que a comunidade enfrenta, incluindo hábitos alimentares, demografia e tipologias de solos da região. A estimativa para implantação desta etapa inclui, ainda, análise de solos, preparo e correção de solos, transporte e aquisição de mudas, instalação de sistema de captação de água e irrigação, instalação de oca de sementes, monitoramento e manutenção de mais de 1000 árvores frutíferas.
RASTREABILIDADE NO CAMPO
Uma ação inovadora está sendo utilizada no projeto da floresta de alimentos. O sistema de identificação das árvores (SiD) é uma ação de gestão que permite fazer um inventário do verde urbano. Cada árvore plantada recebe uma tag, que escaneada, mostrará todas as informações sobre a espécie, plantio, manutenção, etc. A plataforma também serve para coletar e armazenar dados e imagens georreferenciados, online e offline, em qualquer lugar do planeta. Assim, é possível acompanhar, ainda, o crescimento e a geração de CO2 de cada matriz.
Todas as árvores que foram plantadas na primeira etapa (área urbana) já receberam o Sid. As próximas etapas também vão contar com a aplicação do sistema de identificação de árvores.