20/09/2020

Uma causa que nasceu do amor pela natureza, preservação, cuidado e dedicação

O trabalho de transformação de resíduos florestais em peças únicas, revertidos em preservação 

Uma história de amor e dedicação: o amor pela natureza, pelo simples, pelo belo , honrando a ancestralidade. É assim que se resume a bela trajetória da Ecoarts. Uma história que começou com um nome: Dona Mira 75 anos, mãe de sete filhos, filha de pioneiros na região, que cresceu  em contato com a natureza.  O amor pela arte e a natureza, dona Mira transmitiu para seus filhos, que também tiveram a experiência diária da conexão com a terra como subir em árvores, comer fruta do pé, plantar, colher e ter o privilégio de falar em natureza na primeira pessoa. 

“A semente plantada deu frutos e o que brotou em nós não foi apenas o amor pela terra, mas o respeito a tudo que vive nela. A beleza na simplicidade.  Mais tarde, os filhos já adultos e morando longe da fazenda e dos pais, dona Mira muito interessada no artesanato local da região norte do Mato Grosso, comprou um colar feito por artesãos e levou para a cidade grande. A filha Márcia adorou o colar e suas sementes, mas achou que tinha algo de errado. Desmontou todo ele e montou novamente de uma forma diferente. Naquela noite, ela tinha uma festa e usou o colar que fez o maior sucesso! As amigas todas ficaram encantadas e queriam saber de onde vinha aquela peça. “As amigas da Márcia queriam encomendar, mas ninguém vendia aquele exato colar, pois ele havia sido transformado”, contou dona Mira. “Então, voltei nos artesãos e pedi a eles que fizessem algo diferente do que estavam habituados a fazer, mas ninguém quis fazer. Não queriam nem falar comigo. Então, decidi fazer os meus próprios colares. A ideia era me ocupar. Aquilo serviria como terapia para mim”, contou.

Mas essa terapia e distração poderiam ter um sentido ainda maior. Todos sentiam uma inquietação pelo que estava acontecendo na Amazônia e em seu entorno. Preservamos 80% da floresta em nossa propriedade, mas a floresta em pé é um passivo para o produtor. Lutávamos para preservar, mas tínhamos que achar um jeito. Começamos pegando o ” lixo da floresta” sementes, cipós, madeiras e transformando em peças para o habito e o habitar. A ideia foi unir o lado artístico da mãe com a ecologia, assim surgiu o nome Ecoarts afirmou Márcia Martins Miguel, fundadora da entidade.  

“ Tudo nós aprendemos fazendo, coletando a sementes, descobrindo pra que servia, qual nome, qual a época de coleta, como tratar e inventamos equipamentos usando máquinas velhas e conversando com outros artesãos ”, contou Mônica Martins Miguel, a diretora do Studio Ecoarts e autora dos  “ cocares” de sementes que viraram a marca registrada da Ecoarts. 

A partir daí, a produção começou a crescer e começaram a surgir outras peças de decoração. Elas foram se especializando na colheita dos resíduos florestais, aprendendo com as populações locais, como e qual era o melhor momento de colher e como se armazenavam os resíduos  e sementes. “Nós não temos ideia de quanta beleza natural temos aos nossos pés! Todo mundo olha a floresta e vê madeira, alimento ou remedio, nós vemos o imaterial, a cultura, a beleza, o design da floresta, seus povos, especieis, mitos.  A floresta é resiliente e poderosa” nossas peças comunicam isso: ancestralidade que vem dos próprios elementos completa Mônica.

O trabalho da Ecoarts se diferencia pela promocão da cultura e patrimônio  imaterial da floresta Amazônica. Nao vendemos produtos, mas uma causa, que retorna pra floresta. A peça é somente uma forma material que nos faz ver a floresta de outra forma e, também, uma via econômica que nos permite atuar na transformação e viabilidade para a floresta  em pé. 

Parte da renda obtida com a venda de todos os produtos da Ecoarts é investida na regeneração ambiental e replantio de árvores, especialmente frutíferas, tintoriais e aromáticas. Nosso plantio é qualitativo, escolhemos matrizes  frutíferas  de qualidade com o apoio da Embrapa. Plantamos e monitoramos com uso de tecnologia. Fizemos isso numa escala pequena, mas nossa intenção é plantar 2,5 hectares de frutíferas amazônicas, criando a maior floresta de alimentos do mundo. 

Esta semente foi plantada pelos nossos avós e pais e em honra a esta história queremos criar uma viabilidade para a floresta em pé  para que nossos filhos e netos possam ver o que vimos na floresta.

Ao ouvir a pergunta sobre como Dona Mira deseja que a Amazônia esteja daqui a 50 anos, ela respondeu: “ Eu não vou estar mais aqui, mas fico muito orgulhosa e agradecida por ver os meus filhos honrando sua ancestralidade e espero que daqui a 50 anos iniciativas como esta sejam como luz e alcancem milhares de pessoas. Que elas consigam dar valor para a floresta em pé, e para todos os seres que vivem nela,  com cuidado ao próximo, afirmou.  Espero que pessoas possam pensar assim também. A nossa dedicação vai ter valido a pena!”